sexta-feira, 10 de maio de 2013

Vivemos para contar

Todos possuem histórias para serem contadas de nossas vidas, uns mais, outros menos. Divertidas, tristes, emocionantes e inacreditáveis são as histórias que sempre contamos a nossos amigos, ou colegas, ou até mesmo desconhecidos. Evidentemente que o último grupo de ouvintes muito provavelmente apenas tomam conhecimento desses causos num estado etílico elevado do narrador. Mas, faz parte! Um amigo de São Paulo disse uma vez: “A vida é feita para ser contada!” Existe pensamento mais intrínseco do bar que este?

Eu, que não sou diferente, tenho muitas. Estes dias contava a história de minha primeira viagem em meu primeiro automóvel e me dei conta de que esta história merecia estar redigida em meu blog. Então vamos fazer um brinde que eu contarei esta comédia, que por um triz não se tornou tragédia.

Eu ainda possuo a Toyota Bandeirante, ano 1964, cabine curta, capota de lona. A Marinha possui belos exemplares deste modelo. Demais características eu passei a dominar após a aquisição. Hoje sou capaz de fornecer informações detalhadas de sua mecânica, já que ela me obriga a tal. Minha Toyota é carinhosamente apelidada de Guerreira, e não é por causa do atacante do Corinthians, mas sim porque o antigo dono, um querido companheiro dos sem terra, possuía a alcunha Guerreiro. Bem verdade que agora, eu abortei o “i” de seu nome, e, agora sim, por justificativa do atacante peruano. Portanto, hoje ela é a GUERRERA!

Minha GUERRERA numa cena rara em meu antigo quintal.
Curiosidades a parte, a Guerrera foi adquirida no segundo semestre de 2001. Desde o início de nosso relacionamento, percebi que entrei num triângulo amoroso, pois a Guerrera é caidinha por um mecânico, quando compreendi esta sua tara, passei a aceitar que seria sempre a segunda opção. Nada mal, pois apenas a quero nos momentos de lazer. Momentos como o reveillón 2001/02.

O bom de viajar com ela é que ela me obriga a conserta-la no caminho.
Esta cena já não é tão rara, a GUERRERA no acostamento da BR-101.
Obs: Reparem na mancha de óleo na pista, neste momento, ela além de ter um apagão geral, deu problema no garfo da embreagem.

Achei um interessado em partir para Ubatuba, litoral norte de SP, pruma praia quilombola chamada Camburi. Iríamos acampar neste paradisíaco local que na época sequer eletrecidade possuía. Caímos na estrada e não possuíamos isopor, então tomamos a decisão de que pararíamos de tempo em tempo para abastecer o nosso tanque. Para ser mais preciso, a cada duas/três latinhas por pessoa, parávamos. Naquela época não havia todo este alarde de direção e alcoól, embora sempre fora proibido. Também achava que seria uma excelente estratégia para poupar o motor da Guerrera, já que esta era a minha 1ª experiência com ela na estrada. Então chegamos todos bem em Camburi.

Por lá, uma beleza! Praia, sol, cachoeiras e muitas amizades. Próximo de Camburi fica Trindade, a 1ª, ou última, praia do Rio de Janeiro, com acesso terrestre, pertencente ao município de Parati. Neste ano, Trindade já era bem popular entre os baladeiros de SP e decidimos fazer um bate-volta numa noite. Mas, em Trindade fizemos só o bate, não voltamos. Encontramos uma galera conhecida e passamos a noite por lá. Não me recordo muito bem, mas muito provavelmente eu e meu amigo Punk achamos uma barraca. Xô Stress! Acordamos, ficamos de banda por Trindade, no mesmo ritmo dos quilombos, praia, sol, cachoeiras e amizades.

Toda esta galera de Trinda tinha ido para lá de ônibus. Nesta época, a linha São Paulo – Parati, da viação Reunidas Paulista, fazia muita fumaça, especialmente nos feriados. Frequentemente, o motorista intervia os passageiros alertando que se o fumacê não parasse, quem parava era ele, num posto policial. Confesso que nas viagens que fiz, nunca vi pararem, nem a tchurma, nem o motorista. Para quem não sabe, ir para Trindade de ônibus era um modo hard de se divertir. Você solicita ao motorista para descer na estrada, e é obrigado a encarar o Deus-me-livre. Este é o nome que deram para um senhor morro e depois uma senhora ribanceira. Este trajeto só com a roupa do corpo já exige do aventureiro um preparo físico avançado, imagine com mochilão regado de roupas, alimentos, barraca, prancha, violão... Deus me livre! Nome perfeito, só entende quem sofreu. Muito provavelmente quem alcunhou foram os hippies de 70/80 que faziam este trajeto num modo mais hard ainda, pois a estrada era de chão. Em 2000, o trajeto já era asfaltado. 

Assim, tive a ideia de oferecer carona ao pessoal para voltarmos a Sampa juntos. A galera prontamente concordou e combinamos uma data para que voltássemos a Trindade para pega-los. O ano novo chegou, e a Guerrera também na Trindade para o encontro da tchurma. Assim que chegamos o pessoal reparou que ela estava com um ronco forte, expliquei que o escapamento tinha caído quando tentei atravessar uma cachoeira. E, mostrei a prova, o escapamento estava amarrado entre a parte traseira do jipe e o porta estepe. A Bandeirante é muito confortável, embora o documento especificava 5 passageiros, couberam tranquilamente sete. Três, na frente estavam, pois o banco dianteiro era original, logo, duplo. E de Trindade saímos, cheios de fumaça, bongô, violão e voz, ou melhor gritos.
“Pois diga que irá
Irajá, Irajá
Pra onde eu só veja você
Você veja a mim só
Marajó, Marajó
Qualquer outro lugar comum
Outro lugar qualquer
Guaporé, Guaporé
Qualquer outro lugar ao sol
Outro lugar ao sul
Céu azul, céu azul” (Liminha e Gilberto Gil)
Já em Ubatuba, ± 50 km percorridos, o primeiro susto, ela apagou. Mas, foi só o cabo da bateria que havia escapado. Neste momento, a pilha da galera já era baixa. Mas, a babilônia nos esperava, voltamos à estrada e, em Caraguatatuba, o desespero real. Um policial solicitou para pararmos.

- Puts, Cruj, e agora?
- Relaxa, vai dar tudo certo!

Para quem não sabe, Cruj é o meu apelido até hoje em São Paulo. Ganhei na escola, quando acharam que a foto de minha carteira de identidade era igual ao personagem de um programa infantil chamado CRUJ, sigla de comitê revolucionário ultra-jovem.

Imagem de minha carteira de identidade quando era criança. Foto tirada em 1993.
Tá aqui a prova do meu apelido na adolescência que até hoje persiste nas ruas da zona sul de São Paulo. Identificaram quem eu pareço? O nome do personagem era Maca, companheiro Maca.

Mas, agora ficará no ar esta história, pois este post ficou longo por demais. E seguindo um conselho de um atual vendedor de vinho para fazer posts curtos, eu volto para terminar esta história, tudo bem? 

O que achou?

ATUALIZAÇÃO: Este post continua aqui.

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