quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Você está engajado na causa?


Caro(a) torcedor(a) organizado(a), responda rápido duas perguntas:

1) Já viu o vídeo acima? — seria boa ideia se conseguir visualizar um trecho antes de ler o texto;

2) Se uma torcida adversária qualquer estiver tomando borrachada da polícia —despreparada para conter multidões— , qual seria a tua reação?

Se passado alguns instantes, horas, dias ou até semanas e, mesmo se for o teu maior rival, você ainda responder algo próximo de: 
— Eu quero mais é que se explodam!
muito provavelmente, você não consegue compreender como isto está diretamente relacionado a você mesmo, torcedor(a) organizado(a). Ou seja, você deve pensar que isto não tem nada a ver com você e e que apenas será um problema seu se o tumulto for com a sua torcida. Certo? 
Errado! E é sobre isto que eu pretendo humildemente conversar, pode crer?


Figura 1 — Ultras de Portugal num problema mundial: Repressão policial. ACAB — 1312.

Solidariedade

Qualquer motoboy sabe que se ocorrer algum incidente com ele,  imediatamente motocas vão encostar para ajuda-lo. Neste momento, não interessa o modelo da moto, de qual quebrada é, a empresa que trampa, nada disso importa além de união ao companheiro de trabalho. Não apenas os motoboys, mas, de um modo geral, todas as categorias são solidárias a qualquer ato de desrespeito civil. Professores e estudantes defendem a educação, os movimentos sócio-culturais reivindicam por seus espaços, portadores de deficiência física pedem apenas acessibilidade, etc. E nós, torcedores(as) organizados(as), pelo o que lutamos? Por qual causa somos solidários?

Quando morei na cidade do Porto, em Portugal, eu tive muitos aprendizados com os "adeptos" organizados de lá ou ULTRAS, como são conhecidos na Europa. Não é questão da bancada ser melhor ou pior que aqui, mas há muitas diferenças. Uma delas é a solidariedade do movimento ultra. Logo no 2º jogo que fui na Curva Norte do estádio do Dragão, foram erguidas faixas que protestavam: 
Violência policial, problema nacional! C95
Estas faixas (ver figura 2) referiam-se ao jogo da rodada anterior do campeonato português onde os ultras do clube rival Vitória de Guimarães foram agredidos pela polícia em seu próprio estádio (Fig. 1). Se você pensou que a torcida do FC Porto é aliada/amiga dos vitorianos, engano o seu! Apenas um gesto solidário aos feridos e repúdio a ação da polícia.


Figura 2 — Ultras do FC Porto, Colectivo 1995, com as faixas exibidas durante FC Porto x Boavista após a repressão policial em Guimarães. Obs.: Caiu uma tempestade no estádio e neste dia quebrei o 1º mastro do bandeirão. Depois quebrei mais uns tantos... sorte que nunca chegou a conta :)

Com o tempo, percebi que há um movimento entre os ultras europeus em prol do futebol e suas tradições, contrário às organizações que se importam apenas com o lado financeiro do esporte. Penso que daí nasceu a expressão:
Against Modern Football
Diversos artigos, stickers, faixas, estandartes, bandeiras e tifos dos ultras de várias torcidas protestam contra o futebol moderno simultaneamente. É comum num derby ver em ambas as torcidas rivais artigos com dizeres do tipo: UEFA MAFIA.


Figura 3 - Tifo de ultras do Legia Varsóvia (Polônia) numa mensagem memorável à UEFA após o tapetão que desclassificou o clube da Champions League por um pequeno erro. Entenda: Aos 41 min do 2º tempo do jogo de volta, o Legia já vencia o Celtic, na Escócia, por 6x1 e fez uma substituição de um jogador suspenso. Diversos detalhes fizeram parte da coreografia, um porco ao centro num terno sujo de dinheiro sobre o escudo da UEFA segurando um papel escrito: 6 é menor do que 1. Abaixo uma faixa ironizando o slogan da UEFA: O futebol não importa. Dinheiro sim. Football com as cores do Legia e Money com as do Celtic. A UEFA multou o clube em 80 000 € por este tifo. FUCK U€FA!
Ao meu ver, unir a causa da "categoria" é um modo inteligente que os ultras afrontam o sistema capitalista instalado no futebol. As proporções são maiores que manifestações isoladas de torcidas. É um continente inteiro denunciando a máfia do futebol e a repressão policial. Torcidas de diversos clubes rivais e das mais variadas opiniões políticas cedem suas diferenças quando o assunto for de uma questão relativa a sua própria existência. Acompanhar o clube onde ele estiver e ter a liberdade de transformar o amor ao clube em momentos magistrais nos estádios são os desejos de qualquer torcida. No vídeo que abre este artigo, algumas das melhores atmosferas do cenário ultra do mundo (2015/16), de acordo com o site ultras-tifo.net, são exibidas. Nota: no tempo 03:04 do vídeo está o tifo "Acorda Dragão!", do Colectivo 95. Além do respeito total, tenho orgulho de ter feito parte da sua história nas caravanas e nos tifos da temporada 2014/15.

O alvo das mensagens ULTRAS é amplo e muitas vezes põe o dedo na própria ferida. Ou seja, eles fazem a auto-crítica a la Thug Life, com seus códigos de ética e conduta mesmo sem estarem escritos. Assim como o movimento Thug Life, liderado pelo Tupac, os ULTRAS possuem o intuito de diminuir as mortes banais na comunidade marginalizada pelo sistema. Sempre que algum enfrentamento de torcidas gera feridos com facas ou pistolas, a torcida que recorreu às armas é ridicularizada e tida como covarde entre os demais ultras. Ou seja, existe uma solidariedade entre os ULTRAS. E assim uma expressão genérica contra o futebol moderno também é utilizada: Against Modern Ultras.


Figura 4 — Saia do computador e venha sem armas. Na faixa diz, Contra os Ultras Modernos. Se não estiver errado, este pano foi feito pelos ultras Komiti Zapada, da Macedônia.


O bagulho está louco pros lado de lá também

O aumento de feridos e vítimas fatais devido às armas de fogo ou facas utilizadas nas lutas é uma realidade na Europa, assim como no Brasil também. Esta situação tem feito os ULTRAS promoverem espontaneamente a ética do movimento da maneira que melhor sabem fazer. Artigos, stickers, faixas, estandartes, bandeiras e tifos divulgam as "regras" ULTRAS. O estágio está tão avançado, que em fevereiro deste ano, lideranças ULTRAS da Bulgária assinaram um código de honra entre as maiores torcidas do país com 12 regras. Clique aqui para conhece-las (estão em inglês).

E aqui no Brasil?
Pau que bate em Chico, também bate em Francisco.

Figura 5 — O uruguaio Eduardo Galeano escreveu um livro obrigatório para qualquer torcedor, Futebol ao sol e à sombra.

Diante da última grande confusão ocorrida no Maracanã, em 23 de Outubro de 2016, podemos reescrever a sabedoria popular acima: 
Pau que bateu no corintiano, também bateu em flamenguista, que já bateu em mineiros, que bateu no lado A, B e até no C. 
Neste episódio, 31 corintianos foram detidos em flagrante convertido para prisão preventiva, um deles era menor, inclusive. Policiais que não estavam na confusão foram designados para reconhecerem os supostos envolvidos. Os critérios utilizados foram: gordo, barbudo e tatuado. 30 dias após foi apresentado à justiça o laudo da perícia da polícia civil que claramente demonstrou que a PM carioca cometeu um erro gravíssimo nas prisões.

Este parecer técnico concluiu que apenas 4, dos 31, estavam envolvidos no tumulto. Entretanto, apenas 4 inocentes deixaram a penitenciária, o menor foi um deles. Devido ao recesso judicial, os pedidos de habeas corpus serão julgados apenas em 2017, após o fim do recesso, 06 de Janeiro. Ou seja, há a possibilidade —e não é remota— de 27 corintianos passarem o natal e o revéillon dentro do Bangu 10. Estamos falando de pessoas que foram assistir ao jogo de futebol há quase 2 meses e desde então não voltaram para casa sendo que sequer julgados eles foram.

E você, torcedor(a) organizado(a)? O que você tem haver com isto?
— Muito!
Poderia ser com qualquer um de nós. As diferenças entre você e os detidos são, principalmente, clubísticas. Tudo aquilo que nos cerca é semelhante a todos aqueles que optam seguir esta caminhada. Ou seja, por trás das cores e hinos está a causa, e torcida organizada é o nome dela. Em momentos de injustiça como este, as vaidades precisam ser deixadas de lado. Se as lideranças das torcidas não assumirem as responsabilidades e colocarem as caras à tapa para uma mudança radical e urgente, nosso cenário só tende a piorar em caminho da extinção.

Figura 6 — Ou muda ou acaba!

Os fatos passados que nos assombram precisam ser deixados para trás. Nada fará mudar os atos do passado, portanto, passou. Aceite isto! Não podemos permitir que um ato histórico de união das baterias das to's paulistas (Fig. 6) transforme mais uma vez em hipocrisia. 
Vamos mudar?
Eu já mudei e você?

Figura 7 — Luto para que um dia as coreografias brasileiras sejam conhecidas mundialmente e não apenas os tumultos.


Veja também mais essas sugestões de vídeos para assistir no youtube sobre tudo aquilo que falamos aqui. O primeiro é mais longo por se tratar de um documentário nacional completo. brasileiro sobre a elitização dos estádios, 








segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Quem é o seu inimigo?

As torcidas organizadas dos quatro grandes de SP, além do E.C. XV de Novembro e E.C. Santo André, uniram-se num ato histórico em homenagem aos familiares e amigos das vítimas. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
Domingo, 4 de dezembro de 2016, foi um dia histórico!

Não pelas manifestações "contra a corrupção", organizadas por grupos golpistas. Digo pelas torcidas organizadas que estiveram presentes na praça Charles Miller. Não haveria cenário melhor que o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, onde todas as torcidas paulistas já entraram pelo portão principal.

O velho Paca com seus longos 76 anos corre o risco de ser vendido na próxima gestão municipal Foto: Arquivo pessoal.
Paira sob a humanidade um mal criado e alimentado pelo único ser racional da Terra. Não raramente, o capital é posto acima do social e ambiental. E a história nos mostra que são estes momentos os embriões de tragédias, como em Mariana, MG. Infelizmente, uma dessas foi a de um avião tripulado por uma delegação que ambicionava uma vitória continental, e que voou tão alto que conquistou o mundo!

Nem mesmo o mais crédulo dos humanos acreditaria no que viu em Medellín. Mais de cinquenta mil pessoas, dentro e fora do estádio Atanasio Girardot, choraram as mortes de 71 pessoas, nenhuma colombiana. A grandeza do Club Atlético Nacional e de sua torcida tornou o verde da Associação Chapecoense de Futebol em eternos campeões.

Torre Eiffel, Estádio de Welbley, Cristo Redentor e Allianz Arena foram alguns dos monumentos ao redor do mundo que prestaram suas homenagens à Chapecoense. Foto: Reprodução.
No mundo inteiro, muitas foram as homenagens às vítimas desta fatalidade. A #ForçaChape ecoou nos quatro cantos e diversos estádios cantaram Vamos Vamos Chapê! Entretanto, um desses cânticos não era aguardado por um sistema paulista, colegiado — com a conivência dos clubes — entre Federação Paulista de Futebol, Governo Estadual, Assembleia Legislativa e Ministério Público Estadual. O ato ocorrido neste domingo (04/12/2016) serviu como uma rasteira neste sistema podre que só retira a essência do futebol.

Retiraram dos paulistas: bandeiras, pirotecnia, instrumentos musicais, balões, faixas, roupas, cerveja, papel picado, a barraca do sanduíche de pernil, torcida visitante... praticamente retiraram a mística e a tradição do futebol. Com os preços impopulares e a complexidade para a aquisição dos ingressos (cartão da FPF, cartão sócio-torcedor), até o torcedor de uma certa forma é retirado dos jogos. Como bem disse Arnaldo Ribeiro, no programa Linha de Passe, da ESPN Brasil, São Paulo é o túmulo do futebol brasileiro. Desde de 1995, o torcedor paulista assiste calado à morte lenta e dolorosa do futebol justificada no combate à violência nos estádios. Mais de 20 anos passaram-se e as soluções são sempre as mesmas: privar as torcidas daquilo que sabem e amam fazer: festas nas arquibancadas em prol de seus clubes. Sempre que há a oportunidade, surgem as figuras públicas oportunistas com suas varinhas mágicas contendo as soluções que não passam de ideias pífias que envenenam o futebol paulista. Ao torcedor restou aceitar as diversas punições de Eduardo José Farah, passando pelo tio da merenda Fernando Capez até o ministro da bala Alexandre de Moraes.

Entretanto, ironicamente, foi na morte que o futebol paulista respirou. É como se a hinchada do Atletico Nacional ressuscitasse não apenas os jogadores, comissão técnica, dirigentes, jornalistas e demais tripulantes, mas o futebol em si, na sua essência, na alegria. Como se ele quisesse dizer, Estou vivo. O futebol vive!

No Instagram, o movimento foi comemorado por jogadores como o Renato Augusto e Elias. Foto: Reprodução.
A mensagem passada neste ato na praça Charles Miller foi clara: As torcidas não são marionetes do sistema! 

O futebol não quer mais este câncer que se retro-alimenta na máxima: matem-se uns aos outros. Pelo contrário, mostraram que "é possível ter uma união mantendo a rivalidade. Queremos que a felicidade volte ao futebol. Contra o futebol moderno e a favor do povão", disse em entrevista ao Esporte Interativo o corintiano Chico Malfitani, fundador da Gaviões da Fiel, presente no ato.

Alguns amigos classificam o movimento como demagogo e criticam que este pacto de PAZ durou apenas aquelas horas e que na primeira oportunidade lá estarão eles mesmos prontos para matarem-se novamente. Eles podem ter razão, aliás, a história sustenta a teoria deles. Mas o verde da Chapecoense também é o verde da esperança. Esperança de que este gesto de PAZ seja contagioso. Esperança de que todos os torcedores enxerguem que o verdadeiro inimigo deles não são os rivais, mas sim, o sistema. E que juntos as torcidas são mais fortes para renascer a alegria nos estádios paulistas.

Por isso a pergunta ao torcedor: Quem é o seu inimigo?

Aquele que veste as cores diferentes das tuas ou o sistema que mata mais do que ninguém? Segundo dados da SSP, em 2015, 798 pessoas foram mortas no Estado e outros 711 foram feridos pelas polícias civil e militar.

É hora de TODOS lutarem pela festa na arquibancada. E há exemplos em SP de torcidas que fazem da PAZ uma prática diária. Eu sou sócio de uma delas, Estopim da Fiel, desde 1979 praticando a PAZ.
As lideranças tem papel fundamental no retorno da festa aos estádios paulistas, mas também é preciso cada um fazer a sua parte. Torcedor leve a PAZ e o teu amor ao clube para os estádios, o resto é pra tirar onda. Foto: Reprodução.
#ForçaChape

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Collor X Dilma

Graças aos meus pais, tenho orgulho em dizer que fui um cara pintada em 1992.
Recentemente tive uma discussão no facebook sobre o fato de a esquerda considerar o atual pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff um golpe enquanto que há duas décadas o mesmo processo não teve a mesma consideração. Foi uma discussão bacana com "ternura e amizade" entre os diferentes pontos de vista. Isto fez-me considerar de que seria de valia publicar a minha opinião em meu blog não apenas para ampliar a discussão, como também deixar registrada que é possível sim mantermos o nível em discussões nas redes sociais.

O ponto de partida de nossa discussão foram os discursos dos nossos representantes na câmara dos deputados no fatídico domingo, 17, de Abril de 2016. Este assunto já foi abordado por este blog e tu podes visualizar aqui. A minha amiga e também cunhada colocou que os discursos foram idênticos aos discursos no julgamento de Collor.

Copio aqui a minha resposta.


Infelizmente, os discursos dos parlamentares foram os mesmos, tem até um trecho da Escolinha do Professor Raimundo rolando por aí do Batista (o puxa saco do Raimundo) que dizia a mesma coisa (este vídeo está disponível acima em baixa qualidade de imagem). 

Existem cenários semelhantes e diferentes entre o Collor e a Dilma, em minha opinião. Ambos enfrentavam uma recessão econômica, embora o Collor ainda mais acentuada devido a inflação que beirava 1700% ao ano (hoje temos uma inflação em torno 7%) e o confisco das poupanças. E graças a este confisco, Collor ficou impopular (68% segundo o Datafolha), tal qual a Dilma é hoje (71% segundo o Datafolha). Entretanto, é importante ressaltar que a Dilma, diferentemente de Collor, contou com manifestações nas ruas pró-Dilma. Isto leva-me a crer, que o clamor popular pelo impeachment era quase que unânime com o Collor, o que já não acontece com a Dilma.


UNE, ANPG, UJS, CUT, APEOESP e muitos outros movimentos sociais mais uma vez foram as ruas, desta vez para serem contrários ao impeachment da Dilma Rousseff
Ambos também estavam sem apoio na câmara, embora novamente em contextos diferentes, por exemplo, Collor foi eleito pelo PRN, um partido considerado "nanico", e deixou os grandes PSDB (Covas), PT (Lula), PDT (Brizola), PMDB (Ulisses Guimarães), Roberto Freire (PCB), Maluf e Caiado (sei lá de qual partido eram) para fora. Só por isto, já era previsível que ele não teria uma base de apoio sólida no congresso. Hoje, a Dilma até pouco tempo atrás possuía a maioria na câmara, cenário que se alterou em dezembro último após a aprovação do processo disciplinar contra o Eduardo Cunha no conselho de ética. Para ser mais exato, exatamente no dia em que os 3 deputados do PT integrantes do conselho de ética anunciaram pela manhã que votariam a favor da cassação do parlamentar no conselho. Já a tarde, o Cunha acolheu o pedido de impeachment.

Em 1992, o carro envolvido no escândalo era um FIAT Elba pago por um cheque fantasma. Em 2015, na mesma Casa da Dinda foram apreendidos diversos carros de luxos, entre eles, um Lamborghini avaliado em R$ 3 milhões.
Mas o ponto que para mim é bem diferente entre os processos é a acusação. Collor foi entregue pelo seu irmão acusando-o de manter uma sociedade com PC Farias. Isto foi no início do de 1992, em maio. Foi aberta uma CPI em junho e as acusações de Pedro Collor ganhavam forças conforme as provas eram descobertas de que o Fernandinho estava envolvido em atos ilícitos. Em Julho/Agosto os caras pintadas foram às ruas e no fim de setembro a câmara aprovou o pedido de impeachment. Neste momento, Collor foi imediatamente afastado do cargo enquanto o senado apurava se havia crime de responsabilidade. Collor renunciou ao seu mandato para não perder os direitos políticos no fim de dezembro. P|ano falho uma vez que o congresso cassou seus direitos por 8 anos. Com Dilma, a coisa é diferente porque os crimes de responsabilidade são de natureza orçamentária e não de favorecimento pessoal, as famosas pedaladas fiscais (sempre ouvi dizer que pedaladas faziam bem à saúde hehe). E aí entra a discussão, porque não é unânime o fato de que as pedaladas fiscais são crimes. Eu não sou conhecedor de direito penal e entendo que apenas o STF tenha capacidade técnica de julgar isto (o congresso também deveria ter esta capacidade, mas é impossível acreditar que qualquer decisão lá seja por caratér técnico). Se for considerado crime de responsabilidade, o impeachment é legal e não há o que contestar.

Concluindo, eu acho que é sim diferente, Tati, e por isso eu classifico como golpe. Devido a condução deste processo, está claro que tratou-se de uma retaliação de Cunha ao PT, fazendo-me questionar se caso os 3 deputados declarassem votos contrários a abertura do processo disciplinar no conselho de ética, teríamos vivido o último domingo. E isto é uma pergunta que diante dos fatos não quer calar. Eu não acredito que esta faxina anti-corrupção deva começar pelo maior nível hierárquico de nosso regime republicano, a presidência da república. Simplesmente porque se tirarmos o topo da pirâmide, mas a base toda é corrupta (o que é o caso) é óbvio que o "novo" topo será corrupto. 

E para finalizar, eu não tenho esperanças de que iremos ver o país livre de tanta corrupção seja com Dilma, Temer, Aécio, Cunha, etc, enquanto não houver uma profunda reforma política.


O que achou?

terça-feira, 19 de abril de 2016

Um pequeno convite à reflexão política atual

Sete meses se passaram desde minha última postagem. De lá para cá, muitas coisas mudaram. Eu já defendi meu doutorado, o meu clube foi campeão nacional e já até mudei de estado. Outras coisas continuam as mesmas, minha tia continua a preparar o melhor tutu de feijão, meus amigos de Sampa continuam na várzea e felizes e o Palmeiras continua sem mundial.

Cena do filme Ensaio sobre a Cegueira, inspirado no livro de Saramago.
O que mudou então para que despertasse em mim a vontade de escrever mais um post em meu blog? Várias coisas podem ser eleitas. Uma delas o fato de hoje ser mais um brasileiro nas estatísticas de desempregado. Vocês bem sabem que as palavras servem de consolo ao coração. Mas, este post não tem nada a ver com o estado do mercado de trabalho em oceanografia no Rio de Janeiro. Tem sim a ver com a política nacional.

Há dois dias, 17 de Abril de 2016, a comunidade brasileira, talvez pela primeira vez na história, assistiu, em pleno domingo, à uma sessão em direto do plenário da câmara dos deputados, presidida pelo exmo Sr. Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A sessão em questão votou a admissibilidade do processo de impeachment da presidenta Dilma Roussef para o senado federal. Um dia, para mim, triste da história brasileira. Um dia onde a "hipocrisia fez corruptos se tornarem arautos da moralidade pública" como discursou em seu voto o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ). Diversos deputados réus em processos de corrupção, lavagem de dinheiro, percolato, etc votaram contra uma presidenta que não é investigada em nenhuma esfera judicial, portanto, corruptos julgando uma idônea.

O jornalista humorístico José Simão não à toa diz em seu blog que o Brasil é o país da piada pronta. Seria cômico se não fosse trágico. A deputada Raquel Muniz (PSD-MG) foi uma das mais entusiastas em votar e disse mais de 10 vezes "sim" para o impeachment da presidenta. Em seu discurso, a deputada disse que há solução para o país e citou o prefeito da cidade mineira Montes Claros, Ruy Muniz (PRB-MG), como exemplo de gestão. No dia seguinte, logo cedo, a polícia federal prendeu o exemplo por sabotar hospitais públicos da cidade para favorecer o hospital privado de sua família. Um detalhe, o prefeito era também o seu marido.

Quem acompanha-me de um tempo sabe que eu fico muito chateado quando o foco de toda a corrupção se concentra em uma pessoa, em um partido. Isto mostra o quanto o assunto é superficial em nosso país. Isto mostra o quanto possuímos revoltas seletivas. Para mim, todas as operações anti-corrupção serão superficiais se não discutirmos uma coisa, REFORMA POLÍTICA.

Para este post não ser longo, trago dois temas para mostrar o quanto este discurso de impeachment por si não garante um país menos corrupto. 1) sistema de eleição do legislativo (deputados federais, estaduais e distritais e vereadores) e 2) segundo é o financiamento privado de campanhas políticas.

Deputados e vereadores no Brasil elegem pelo sistema de proporcionalidade, ou seja, um cálculo bizarro que resulta em "puxadores" de votos. Nas últimas eleições (2014) os quatro deputados federais eleitos que lideraram a votação em SP e no RJ tiveram votos suficientes para levar outros oito candidatos. São eles: Celso Russomanno (PRB-SP), Tiririca (PR-SP), Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Clarissa Garotinho (PR-RJ).

Se dividirmos o número de eleitores pelo número de cadeiras que cada estado possui na câmara chegaremos ao "custo" que cada candidato teria que alcançar para ser eleito. Por exemplo em SP, são aproximadamente 21 milhões de votos válidos para 70 cadeiras, logo, para cada 300 mil votos um candidato é eleito. Mas, não é bem assim que a banda toca. Sozinho, Russomano teve 1,5 milhão de votos, o suficiente para eleger quatro candidatos do seu partido, já que não se coligou com nenhum outro partido. Graças a este sistema eleitoral, o deputado Fausto Pinato (PRB-SP) foi eleito com 22 mil votos, 7% do quociente necessário para eleger um deputado em SP.

Quem assistiu à transmissão da sessão do plenário no último domingo certamente se perguntou, como o Brasil elegeu uma pessoa dessas? Eis a resposta. Ele por si só não teve votos para ser eleito, mas a divisão do sistema eleitoral garantiu a sua posse. Lanço a pergunta que não quer calar, a quem interessa um deputado na câmara que não possui representatividade com sua base eleitoral, com a sua comunidade, com o setor que o sustentou para sua eleição? Se você pensou em Eduardo Cunha, pensou bem! Esses deputados que não foram eleitos pelas suas bases políticas, mas sim devido à super votação que outros candidatos tiveram. Logo, existe um conflito de interesse em questão e assim são mantidas as relações de poder no legislativo. Quando o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) chama o presidente da câmara de gângster, certamente está se referindo, entre diversas razões, ao controle que ele tem nos bastidores do congresso. É claro que não podemos generalizar que todos os deputados de "carona" são paus mandados, mas há uma enorme chance que seja. Para encerrar este assunto quero deixar aqui um dado surpreendente que precisamos refletir na sociedade brasileira: dos 513 deputados federais, apenas 36 foram eleitos com seus próprios votos. Será que há algo de errado neste sistema eleitoral de proporcionalidade?

O deputado Wladimir Costa (SD-PA) suspendeu sua fala e estourou um rojão de confetes no plenário. Ao seu lado o deputado Paulinho da Força (SD-SP) que fez uma infeliz parodia de Geraldo Vandré em seu discurso: “Dilma, vai embora que o Brasil não quer você. E leve o Lula junto e os vagabundos do PT”

Pois bem, o outro ponto que também precisamos debater para afastar (ou ao menos diminuir) a corrupção instaurada nas esferas públicas é o financiamento privado de campanha. Em 5 de Novembro de 2015, tivemos o maior acidente socioambiental da história do nosso país, que atingiu dezenas de munícipios capixabas e mineiros. O rompimento das barragens de Mariana (MG) poluiu o rio Doce e parte do mar no Norte do Espírito Santo. O impacto ambiental, social e econômico da lama de rejeitos da mineradora Samarco, cujos donos são a Vale e a anglo-australiana BHP, ainda é imensurável (para contribuir com estes dados inestimáveis, a Marinha do Brasil acaba de decretar sigilo absoluto de 5 anos à pesquisa que realizou na Foz do rio Doce). Mas, por quê trombas d'água estou a escrever disto aqui?

Simples, a Vale, empresa privatizada no governo FHC e sócia majoritária da Samarco, doou mais de 48,9 milhões de reais nas eleições de 2014 apenas para partidos. Outros 39,3 milhões de reais foram doados diretamente as candidaturas individuais, perfazendo um total de 88 milhões de reais. Desta "caridade" destinada apenas aos partidos políticos, quase metade (23,5 milhões de reais) foram doados para o PMDB. Curiosamente, o PMDB é o partido que controla o setor de mineração do Brasil, indicando o ministro e a maioria dos chefes dos Departamentos Nacionais de Produção Mineral (DNPM). Ao menos até hoje, o ministério ainda é do PMDB, uma vez que Eduardo Braga não foi exonerado do cargo, embora garanta que entregou a carta de renúncia à presidenta. No ano passado, logo após o acidente, a Câmara dos Deputados reinstalou uma Comissão Especial para analisar e votar a toque de caixa, com o apoio do governo federal e sem participação social, um projeto de lei que altera - para pior - o Código da Mineração. Dos 37 deputados que já integram a Comissão, 17 tiveram doações de empresas ligadas à mineração. E esta você não vai acreditar, sabe qual foi o deputado que mais emendas apresentou a esta reformulação do código de mineração e quantas foram? O gângster! Ele mesmo, Eduardo Cunha com exatas 90 emendas. Muito à frente do segundo colocado, Bernardo Vasconcellos (PMDB-MG), que apresentou 24 emendas. Um terço das emendas foram apresentadas por deputados do PMDB.

A Vale foi uma das maiores empresas doadoras de campanha em 2014


Diante deste cenário visivelmente muito bem arquitetado, diante de tanta podridão, das cifras e da realidade brasileira, alguém ainda acha que a Samarco terá as punições que realmente deveria sofrer? É aceitável que o financiamento privado de campanhas não está entre os principais focos a ser combatido para eliminar a corrupção no nosso país? E para finalizar, há a mesma revolta popular a estas duas questões que levantei aqui tal qual existe para o impeachment da Dilma Roussef?

Despeço-me citando o último parágrafo de Clarissa Reis Oliveira que elaborou um dossiê intitulado  Quem é quem nas discussões do Novo Código da Mineração publicado em 2014 que você pode visualizar aqui.

Os resultados encontrados nessa pesquisa constataram, lamentavelmente, que quase todos os deputados titulares da Comissão Especial do Novo Código de Mineração tiveram suas campanhas apoiadas por empresas mineradoras, assim como os partidos com as principais representações na Câmara. O que esperar da votação do Novo Código da Mineração nesse perfil de Comissão Especial, e no atual Congresso Nacional? Fica evidente o compromisso desses parlamentares com as mineradoras, reforçado pela sua atitude anti-democrática de levar a votação o novo código sem um amplo debate com os trabalhadores e suas organizações e com as comunidades dos territórios que são ou serão atingidos pelos projetos de mineração. Clarissa Reis Oliveira


Jean Wyllys (PSOL-RJ) errou ao cuspir no Jair Bolsonaro (PP-RJ)?
O que achou? 

sábado, 26 de setembro de 2015

Sobre copos, migração, mochilão e amor

Minha casa é meu caneco, minha cidade é meu boteco. Desce a saideira de afeto. Embrulha pra viagem, poe na bagagem. Volto logo e noutro copo de vocês me afogo - Tássia Reis
Nunca fui fã das pessoas que possuem preconceito da pegação. Sim, há uma visão negativa generalizada tanto daquela mina que é capaz de dar de primeira quanto daquele cara que está na balada à caça. Claro que com mulher ainda é pior, afinal, de acordo com Fábio Porchat, somos todos machistas (para entender, clique aqui).

Diversas razões repelem-me destes seres. A primeira delas é a hipocrisia e nem pretendo entrar em mérito aqui. Mas, com certeza tu conheces alguém que fala mal pelos cotovelos da X e do Y, mas numa rápida oportunidade, já lá está a fazer aquilo que julga errado apenas nos outros. Porém, acho que a hipocrisia é resultado de outra questão que é: por quê a pessoa "galinha" é mal vista?

Se uma pessoa viaja muito ela é viajada. Se possui gosto musical diversificado é eclética. Se é conhecedora de cervejas é cervejeira. Se adora diversificar na culinária é gastronômica. Porém, se por acaso tu adoras experimentar relações com outros seres humanos, és qualquer adjetivo pejorativo! Por quê cargas d’água a sociedade não aceita a tua decisão de conhecer diferentes formas de relacionamentos ao estar com diferentes pessoas? Por quê, cara pálida?

Penso que experiências passadas são essenciais para relações intra-humanas (não utilizei a palavra casal em respeito ao poli-amor) bem sucedidas. Tal qual o paladar, se não conheces o gosto do azedo, não saberás diferenciar do amargo, do doce, do salgado ou do umami. Para ser um(a) bom(a) enólogo(a) é necessário experimentar as castas individualmente, diferir safras e regiões, avaliar as misturas para atingir as melhores seleções. Apenas com este paladar diversificado um(a) profissional competente irá saber qual a melhor harmonia para cada ocasião.

Casal de Albatroz-de-Sobrancelha-Negra (Reprodução)
Neste jogo de descobrimentos, quanto menos relações tu experimentares, maiores são as chances de não saberes o que procura. Qualquer animal migratório possui um destino, a reprodução. Se ele não migra para o ato, migra para obter energia para tal. Dentre os fatores que influenciam sua rota, a disponibilidade de alimento se não for o principal, é um deles. Se a praça de alimentação está boa, lá estará até que já não valha mais a pena, do ponto de vista energético, estar ali. Esta é a estratégia que estes animais optaram para lidar com a escassez sazonal de alimentos.

Penso em uma analogia com nós, humanos. Necessitamos viver um periodo migratório. Se eu não souber de que daqui a dez milhas de mim há um cenário melhor, certamente eu estarei a perder oportunidades. Ou se, ao contrário, não souber que em um passado recente o cenário foi pior, posso não valorar o presente. Portanto, relações passadas servem-nos para dar valores às atuais, prós e contras. Assim, uma situação de desequilíbrio a tender constantemente para o contra, amigão ou amigona, vaza! Busque as melhoras! — Diria até que o equilíbrio desta balança também pode ser um convite gentil para bater asas. Mas, novamente, só conhece sabores quem provou.

Evidentemente, a próxima parada da migração é uma incógnita a estes animais. Mas, caminhar, nadar, voar são necessários para mante-los vivos. Em nós humanos, esta adrenalina do desconhecimento do próximo destino alimenta uma alma viajante. Permite permitir-nos! Ninguém nasce um bom mochileiro. Nem um bom mochileiro é aquele que muito viaja. Um bom mochileiro permite as descobertas e consequentemente está em constante auto-conhecimento. A partir de então colhe os frutos da boa estima, da segurança e de seus limites. Em miúdos, garante-se para quando no momento certo, no local certo e com a pessoa certa for o caso de entregar-se a uma paixão! E quando corações bem resolvidos encontram-se, estes são complementados e não preenchidos.

Por isso também que não boto fé naquelas pessoas que pulam de relacionamento para outro. Não permitem o calar natural do luto. O luto, tal como o medo, põe-nos à prova, leva-nos às avaliações e permite-nos à reciclagem. Adotam a máxima de curar um amor com outro, mas estão suscetíveis podem cometer um erro grave: esquecer que o melhor remédio é o amor próprio, que engrandece-se após os lutos. Na prática, buscam em corações alheios o preenchimento para o vazio de seus próprios corações.



Por isso, defendo a vida de solteiro. Sei que devemos ter muito cuidado com as generalizações, mas um(a) solteiro(a) bem resolvido(a) saberá a hora certa dos momentos. É mais ou menos como outra máxima de bar, enquanto não acho a pessoa certa, divirto com as erradas! E uma pessoa certa não significa aquela até que a morte os separe. Significa aquela que tu irás até o fim com ela. E este fim pode ser amanhã, daqui seis meses, ou no fim de tua vida. Não tenhas receios em entregar-te por esta pessoa. Não sejas egoísta ao adotar a cautela como uma estratégia de defesa para "doer menos à frente". Vive o presente! Ama! Caso contrário, virará passado e sem o teu deleite. Gozes no início, no fim e no meio!


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domingo, 23 de agosto de 2015

Desabafo do Cassino

Estimados governantes do município de Rio Grande.



Estou ciente do ódio que é distribuído livremente neste momento virtual. Portanto, é muito difícil que esta carta seja lida sem sequer uma resguarda sobre o conteúdo que pode vir a aparecer neste espaço.

Gostaria de começar por reconhecer os zelos que são feitos até o presente com a comunidade riograndina. Através das secretarias, valoro todos esforços feitos na educação, na mobilidade urbana, no meio ambiente, na cultura, entre outros. Evidentemente, muito deve ser melhorado, afinal somos uma população carente que sequer possui acesso ao saneamento básico amplo. E também não gostaria de menosprezar quaisquer outras ações reivindicadas pela população. Mas, gostaria de tratar sobre a segurança pública, em especial no Cassino.

Em pouco mais de um mês, eu estou envolvido em 3 casos de violência. O mais grave deles foi na madrugada de sábado, 22 de agosto. Bastou uma arma, branca ou de fogo, para uma tragédia maior. Eram pouco depois das 05 horas, voltava de uma festa acompanhado de duas amigas e íamos em direção as nossas casas. Estavámos no passeio da antiga estação de ônibus, em frente ao supermercado. Portanto, estávamos no principal cruzamento do balneário e não na esquina da minha casa. Em nossa direção, corria a gritar outro amigo. Atrás deles, um bando, alguns com bicicletas inclusive. E foi quando aconteceu uma pancadaria generalizada e gratuita. Um carro que passava pela avenida Atlântica percebeu a violência e atirou seu carro em cima do bando para dispersarem, mas não resultou. A este nível, se houvesse uma pistola, tiros seriam disparados. Levei dois capotes, estou com o cotovelo ralado, a panturrilha e o punho dolorido. Meu amigo também está com dores musculares. Esta, como disse, é a terceira vez que encontro-me na típica situação, entre a cruz e a espada. Foi também a maior.

E eu conheço casos semelhantes. As características dos acontecimentos são semelhantes, sempre em bandos. Há pouco mais de duas semanas, uma mulher foi cercada nas proximidades do posto da praia e seus pertences foram roubados. Esta mesma guria, há semanas antes deste episódio teve sua casa invadida enquanto familiares encontravam-se dentro da casa. Novamente, mais um caso que há uma linha tênue para uma tragédia pior. Penso, PMRG, que já deve ser de conhecimento de sua estrutura funcional que o cruzamento da avenida Rio Grande com a Rua Cachoeira é um ponto estratégico no combate a violência no Cassino. Tiro esta conclusão pelo fato da instalação recente de uma câmera de vigilância neste mesmo local.

Porém, estimados, esta ferramenta isolada não trouxe resultados. É ali que esses bandos agem, ou ao menos se concentram. É triste, porque este é um ponto em nosso balneário super interessante, diversificado e muito frequentado por várias tribos, devido à proximidade com acesso 24 horas a alimentos e bebidas.

Por que não cuidar deste ponto, governantes? Poxa, se há um ponto estratégico para a implantação de uma base comunitária da guarda civil metropolitana no Cassino, eis um dos melhores!

O Cassino é muito bacana para ser maquiado apenas no verão. Um reflexo desta prática é exatamente o policiamento intensivo apenas no verão. Não quero menosprezar outros bairros. Eu também quero segurança na Querência, no Parque Marinha, na Quitéria, em Torotama. Mas, eu peço pelo Cassino, porque eu vivo aqui e quero andar a pé em paz.

Também não pretendo diminuir outras causas, temos muitas coisas a nos preocupar, como a lama na praia, a conclusão do skate-park, a construção da ciclovia bolaxa-cassino, enfim, mas todas elas também clamam mais segurança, por favor!


Vivemos uma era de novidades para Rio Grande, talvez um grande momento foi a própria eleição de Alexandre Lindenmeyer, que este blog já felicitou (veja aqui). Acredito que nunca a cidade esteve no estado de violência atual. Vide os casos de grande repercussão dos dois empresários violentados nesta mesma semana. Rio Grande precisa agir com medidas que ofereçam segurança ampla à toda comunidade! E instalação de bases comunitárias em pontos estratégicos e aquisição de uma base móvel da GCM pode ser algumas dessas medidas.

Não quero aqui entrar no mérito do como uma pessoa torna-se criminosa. Há muitos fatores envolvidos e podemos até reconhecer que esta também é vítima de um sistema que o isola e não oferece-lhe oportunidades para ele ser uma pessoa melhor. Acho que a raiz deste mal se cura com amor. E um povo com acesso à saúde, à educação e à cultura é um gesto de amor entre governo e cidadão.

Bem, perdão pela extensão, mas o tema é delicado e urge. Por isso, este desabafo.

Um grande abraço e contem comigo para emanar o amor!

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quarta-feira, 20 de maio de 2015

Era uma vez... um santo.

Todos temos histórias clássicas que nunca cansamos de contar/ouvir. Sempre divertimo-nos enquanto narramos ou ouvimos esses causos. A exceção pode ser do personagem central que por vezes pode não gostar do fato ter caído à boca do povo. O curioso são as proporções que elas podem alcançar. Vira e mexe meus amigos divertem-se com uma na qual sou personagem. Solicitei ao propagador desta lenda (sentido figurado), um querido amigo palestrino, que transformasse sua voz em texto e reproduzo aqui. Divertes-te!

Definição de lenda pelo dicionário online priberam
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A culpa é de São Jorge
por Gustavo De Vita

Lá pelas tantas voltava eu de um legítimo churrasco gaúcho, deliciosamente empanturrado, feliz e em território completamente neutro. Uma suposta alegria me contagiava. A sensação não era puramente alegria. O futebol, com seus altos e baixos, finalmente me presenteava. Nossa, como somos perturbados, apesar de tão distante, nos sentimos realmente parte do nosso clube do coração! Logo entendi, a sensação, na verdade, era um alívio como o de dever cumprido...

No mágico Cassino, balneário com a maior e mais austral praia do Brasil, estudantes de todos os cantos e desencantos do Brasil, formavam uma grande família. Palmeirenses e Corinthianos, Gremistas e Colorados, Remistas e Paysanduístas. É possível que o fato de estarmos a milhares de quilômetros das sedes e próximos de uma das maiores rivalidades esportivas do mundo, nos tornava ainda mais motivados a defender com vigor as cores das nossas agremiações.

A rivalidade extra Paulicéia intensificava, mas cultivávamos um certo carinho e respeito pelos oponentes, entre os meus principais, Baila e RenatÃo. E aqui a estória merece um parênteses. A escrita do seu nome não foi um erro de digitação, é proposital. Iniciando sua carreira acadêmica, num congresso internacional, seu nome no crachá foi digitado no aumentativo e com o "a" maiúsculo, erro que não poderia combinar tão bem com a sua personalidade irreverente. Ele não deu a menor bola, apresentou seu trabalho com maestria para uma plateia sedenta por tropeços. Passamos o resto da semana comemorando nos bares da cidade de Bento Gonçalves, entornando vinhos, cachaças e cervejas, em debates intermináveis e sem tirar o crachá. RenatÃo era um sujeito bonachão, paulistano da gema, enraizado no Jabaquara, corinthiano fanático, com um coração do tamanho do seu cabelo black power e um carisma que conquistava todas as torcidas.

...Enquanto eu chutava as pedras da avenida principal do Cassino e seguia para finalizar um domingo tranquilo e feliz, refletia sobre aquele empate do Grêmio que tão satisfeito tinha me deixado. Ao mesmo tempo, palmeirense doente, pensava nos meus rivais: "já passei por isso, vai devagar, respeita porque a dor é grande, futebol é traiçoeiro, etc, etc, etc!". Prometi a mim mesmo não importunar nenhum oponente...

A avenida estava vazia, a missa tinha acabado fazia um tempo, o carvão já havia se apagado e todos já estavam se preparando pros gols da rodada. Foi quando avistei a cerca de 500 metros de mim, do outro lado da avenida, um sujeito com passos duros, cabeça baixa e segurando alguma coisa grande e pesada. Ao me aproximar um pouco mais o reconheci; era o RenatÃo com seu amuleto, a estátua de São Jorge, que possivelmente o acompanhava durante muitos anos. Ele olhou pra mim e pude ler seu pensamento: "puta que o pariu, tem que encontrar justo esse filho da puta agora". Senti estampar no meu rosto um sorrisinho cínico a lá Monalisa e quebrei a promessa com a mesma velocidade que volto a tomar cerveja na quaresma: - Ow RenatÃo, vai pra onde com esse santo? Com uma voz grave, seca, meio infantil e embargada, sem conseguir segurar, ele desabafa: - Ah, vou jogar esse traidor no mar! Nunca mais!. E segue cabisbaixo, vociferando com o seu santo em direção à praia escura e protegida por uma imagem de Iemanjá, como se, com o santo, lançasse ao mar todas as suas recentes amarguras.

Relatei por muitos e muitos churrascos essa cena tragicômica que se tornou histórica nas mesas redondas futebolísticas do Cassinão.

O dia era 1º de dezembro, o ano 2007, a queda do Corinthians para a segunda divisão do campeonato brasileiro.

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E então? Gostastes? Essa estória é 100% verídica, embora mereça algumas observações.

Santo quebrado dá azar!

Próxima à casa da minha mãe, em SP, havia uma casa de umbanda. Eu adorava entrar lá e olhar os santos e sempre fascinava-me o São Jorge. Era uma imagem linda e também cara. Mas, em uma de minhas visitas à coroa resolvi arcar com esta despesa. Para transportar o santo padroeiro do Corinthians para o Rio Grande do Sul, coloquei atrás do banco do motorista no carro que herdei do meu pai. Em alguma freada brusca ouvi um estalo que na hora percebi o ocorrido. Quando desembarquei no Rio Grande, confirmou-se o fato. A cabeça havia partido.

Eu achei aquilo nada justo. Poxa! Antes de ir a São Paulo eu já possuía até um santuário e não acreditava que a imagem sequer iria descansar em seu destino. Imediatamente tratei de ignorar a sabedoria popular e pensei, essa estória de santo quebrado é uma lenda. Liguei para minha mãe e ela confirmou, dá azar sim! Mas, mesmo assim, resolvi colar a cabeça do santo e de tão perfeita a reconstituição ninguém repararia, ainda mais num santuário disposto acima da porta do meu quarto. Lá a imagem repousou por alguns meses.

Em 23 de Abril de 2008, durante uma procissão na sede do Corinthians, o São Jorge partiu e quando perguntaram à Marlene Matheus se aquilo era um mau indício ela respondeu: "Nada disso! Foi um sinal positivo. O São Jorge se libertou de 14 anos de podridão no clube. Estamos em uma nova fase" em alusão a renúncia de Alberto Dualib no ano anterior. O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://esportes.estadao.com.br/noticias/futebol,estatua-de-sao-jorge-quebra-durante-procissao-no-corinthians,161618O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compa

Após um empate com o Goiás, estava agoniado e frustrado! Era aquele momento que olhamos para os objetos, mas o cérebro sequer processa as informações. Até o meu olhar descansar no São Jorge. Imediatamente pensei, É o Santo! Será que o Corinthians está nesta urucubaca por causa disso? Irracionalmente, coloquei a culpa não no São Jorge, claro, mas no fato dele estar quebrado! Este Santo dá azar! E sem pestanejar, levei o São Jorge para o mar para lá ficar toda a zica que vivia o meu clube. Portanto, percebas duas coisas: eu não culpei o Santo em si, mas sim o fato de estar quebrado. E, que este gesto foi uma tentativa de salvar o titanic.

O leitor atento já deve ter reparado num equívoco do Gusta em relação a data. O dia não era 1º de dezembro, até porquê não houve rodada da série A nesta data. Nem tão pouco fora na data do rebaixamento, 02/12. O dia que desfiz de meu santo foi no dia 11 de Novembro de 2007, após um empate no serra dourada para um adversário direto ao descenso, o Goiás. Portanto, embora ainda faltavam duas rodadas para o término do campeonato, é compreensível a satisfação do rival. O Corinthians dava passos largos para repetir o destino do navio mais famoso do mundo.

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